Esta notícia está a ser recuperada por vários media russos, como a RT, que, além de citarem a agência de notícias norte-americana, também sublinham o facto desta se basear em fontes russas e não ucranianas, como seria de esperar.

Embora o bloqueio negociado a determinados alvos, como os sítios nucleares, mas também as grandes unidades industriais químicas, que não são referidas pela Bloomberg, sirva os interesses de ambos, este desenvolvimento pode ter outras interpretações mais... sofisticadas.

Se para os russos, como notam alguns analistas, serviria para amaciar o lado ucraniano para as futuras negociações que deverão encetar a dois, com o encontro para breve já confirmado entre Donald Trump e Vladimir Putin, para Kiev o objectivo seria o contrário, impedir que Moscovo e Washington conversem sobre a guerra sem a presença ucraniana.

Mesmo não se sabendo o que move ao certo um e outro lado, sabe-se que o tema da urgência para encontrar uma saída negociada para o conflito no leste europeu chegou ao palco mediático com estrondo devido ao efeito Trump, e a sua promessa de acabar com a guerra "em 24 horas".

O que pode ser visto como Moscovo e Kiev estarem a avançar trabalho para o que já todos perceberam que tem os dias contados, mesmo que os aliados europeus dos ucranianos, como o Reino Unido, a França ou a Alemanha, estejam a dar passos no sentido de "armar" Kiev com ferramentas que ajudem a abrir brechas na rigidez negocial dos russos.

Exemplo disso é o acordo bizarro que o primeiro-ministro britânico, Kweir Starmer, foi a correr a Kiev assinar esta quinta-feira, 16, "de defesa para 100 anos" com a Ucrânia, a escassos dias da chegada de Trump ao poder, fazendo de conta que o Reino Unido já não tinha assinado, há menos de meio ano, um acordo em tudo semelhante mas com menos de um século de duração.

Além disso, o tema do envio de forças militares ocidentais, especialmente francesas e bálticas, voltou a surgir no centro do palco mediático enquanto a Polónia vem dizer que a Ucrânia deve ser já convidada para entrar na NATO, sendo este um tema nevrálgico para todos os lados, e depois de Donald Trump ter dito que percebia a recusa de Moscovo aceitar essa possibilidade.

No que os analistas coincidem em grande medida é que Kiev já está consciente que vai ter de negociar com os russos com o desenho do processo negocial nas mãos do Kremlin, que Trump e Putin vão mesmo decidir como vai terminar a guerra e que a Europa ocidental, menorizada nesse desenho, está a procurar meter o pescoço de fora antes que se afogue totalmente na irrelevância.

Todavia, esta notícia da Bloomberg emerge neste contexto como uma picada no esforço dos aliados europeus do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky porque, se se confirmar, e parece que assim é quando os media russos a citam abundantemente, é a Ucrânia que se está a antecipar às ideias dos amigos europeus em continuar a guerra até conseguir melhores condições negociais, como disse ser objectivo Mark Rutte, o secretário-geral da NATO.

Isto, embora a própria agência de notícias sublinhe que os ucranianos refutam essa possibilidade de negociações secretas no Catar sobre a excepção de objectivos "atacáveis", admitindo apenas falar com os russos sobre a troca de prisioneiros, e o Kremlin não aceitou falar do assunto com os seus jornalistas.

Este assunto já tinha sido abordado por The Washington Post em meados de 2024, com igualmente o Catar na condição de mediador, sendo que nessa altura, embora sem confirmação plena, o seu Governo admitiu que está em permanente busca por soluções de paz.

Recorde-se que estas conversações só podem ser secretas porque existe uma lei, aprovada na Rada, o parlamento ucraniano, sob proposta de Zelensky, que impede a Ucrânia de negociar com Moscovo, não sendo conhecido que tal lei tenha sido anulada.

Apesar dos muitos sinais de que Trump vai querer mesmo obrigar Kiev a sentar-se à mesa com os russos, depois de EUA e Rússia definirem os termos em que tal ocorrerá, a situação de extrema fragilidade militar dos ucranianos nas frentes de guerra (ver links em baixo), e o iminente colapso da sua capacidade de resistência., estão igualmente a empurrar para uma solução conversada.